terça-feira, 28 de setembro de 2010

DIETAS

É tanta coisa que é preciso restringir

Modos, riso alto, palavrão.
Comida, então... Quanta restrição!
Para quê?
Um modo ilustrado de viver.
Mas espera aí!
To escrevendo isso e daqui vou sair
Para me exercitar, malhar. Não posso cair!
Tá vendo! É fácil escrever.
Mas também não consigo fugir.
Dieta que a vida impõe para se definir
A rumba só pode tocar na noite
A batata só no fim de semana
O choro só em situações limites
O riso só no filme do Chaplin
A roupa rasgada só pra ficar em casa
Gritar de repente, nem pensar.
Melhor esperar entrar na montanha russa.
E se não há, então não dá.
Beber depois das oito que é pra não pegar mal.
E sozinho, melhor não.
Beijar, como é bom. Mas assim a luz do dia? Também não!
Ser gentil, até o ponto certo.
Ser rude? Tenta disfarçar! Sorria com a boca e engole seco pra não assustar.
Dieta não está só nos Vigilantes nem consultórios de nutrição.
Dieta está em toda parte, sinônimo de restrição.
Mas a pior de todas as dietas,
É ter que restringir o coração.

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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

DA ESQUINA

Na esquina eu escuto a música que me leva

Para além de.
Que me tira desse impacto.
O impacto que chega aos poucos.
Como todo trauma despercebido.
Que a gente finge que esquece.
Que a gente finge que não acontece.




Paralisado no tempo, respiro o outro lado da esquina
Me deparo com o Clube


Responsável pelo movimento
O transporte
E ao ouvir os primeiros acordes
Os acorde do teclado mágico
E a voz escancarada do mundo superior
Já fui longe
Já escorreu a água dos olhos.
Já sou.


Esse canal que diz que o
Que vejo, ouço, sinto
É tão limitado e tenta, tenta, tenta
Ultrapassar a barreira invisível, concreta e dura
Quebra-a, solta, voa e vibra.


Vento solar
E eu ainda quero morar com.
E ainda quero mesmo morar com.
Se eu morrer é só a lua.
Roubo as as palavras da mesma rua que eu conheci
Num momento peculiar da existência
Impresso no corpo
Já não se sai ao vento.


E lá se vai.
Vai.
Mais.
Um.
Dia.

Em qualquer direção

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sábado, 18 de setembro de 2010

NÃO EU


Sim, meu eu.
Terei que te guardar aí.
Não posso mais ser você.
Não dá.
Desculpe.
Não adianta implorar.
Eu sei.
Vai ser difícil.
Mas dessa vez não vou te ouvir.
Nem se você, eu, começar a cantar
Aquele Blues que fazemos quando queremos
Ou aquele Folk tipo Tom Waits
Que nos faz lembrar.
E nos faz esquecer.
Mas não pense que é descaso, eu.
Não é.
Você sabe o quanto tudo.
E só tempo.
Não pergunte.
São eles.
Não cabemos.
Se assustam.
Pois é.
Não sofra.
Quando se sentir sozinho,
Passeie pelas ruas
Longe de você, de mim
Quem sabe?
E assim, oculto, poderá até chorar e rir
Eu vou te ouvir.
Não vou te amparar.
Mas saberei de você, de mim. 
Não é você.
Não sou eu.
Não eu.
Mas é assim que tem que ser.
Se for você, eu,
Se a gente ser,
Não vai ter.
Depois prometo.
Te resgato.
Aí.
Pra você, eu, nunca se, me perder.
E não nos esquecermos do quanto fomos felizes.
E quanto ainda vamos ser.
Porque
Não se esqueça.
Se pudesse escolher,
Escolheria eu,
Você.


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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

CANÇÃO DAS HORAS DELE

Às sete horas acordou inteiro
Tomou café com um sorriso estampado.

Se alimentou com um pão com manteiga,
Que era quentinho do jeito que ele gostava.




Às oito horas já se arrumava,
E a manhã era ensolarada.
Queria ter o mundo de uma vez,
Hoje é sexta feira, ele sai às seis.


Às oito quinze ele se despedia,
Sua mulher hoje não trabalharia.
Iria esperá-lo em casa,
Para um jantarzinho que há muito não faziam.


Às nove horas já estava no trânsito,
Uma musiquinha na rádio pra relaxar.
Mas o caminho era um pouco longo,
E um barbeiro fez ele se atrasar


Às dez e quinze chegou no trabalho,
E o seu chefe, como sempre, reclamou:
“Como é que pode um funcionário como ele,
Chegar tão tarde sem se explicar?”


Às onze horas ele já suava.
No escritória não tinha ar.
E o seu terno era tão escuro,
Que o calor não dava pra aguentar.


Ao meio dia já sentia fome,
Mas não podia sair sem terminar.
Enquanto trabalhava dando duro,
Só pensava na hora de almoçar.


Uma da tarde, ele largou tudo.
Não dava mais para se concentrar.
Avisou que sairia
E num bar da esquina foi se alimentar.


Às uma e meia ele já voltava,
Mais uma vez seu chefe foi falar:
“Aonde foi que você se meteu,
Quando eu te chamei e você não tava lá?”


Duas tarde ele se coçava,
Pensava na esposa a lhe esperar.
Sabia que ela usaria
O tal vestido que o faria suspirar.


Duas meia chegou mais trabalho.
Uma pilha de papéis para assinar.
Com tanta coisa, ficou desesperado.
Já imaginava que seu tempo ia se esgotar.


Às três da tarde era um mal -humorado.
Tão mal-humorado que só sabia reclamar:
“A vida tá uma porcaria,
Tudo o que eu quero é viajar”


Quatro da tarde estava ansioso.
Daqui a pouco o escritória vai fechar.
Então esboçou um sorriso
E já assinava tudo pensando na voltar ao lar.


Só que as cinco o chefe o chamou.
Era um assunto muito importante.
Começou a falar demais,
E ele se enervava sem demonstrar.


Às seis horas nem imaginava
Quanto tempo mais teria que aguentar.
Ouvir o seu chefe falando era como um pesadelo,
Um sonho horroroso sem ter como acordar.


Às seis e meia sua mulher ligou,
Mas ele não tinha o que fazer.
Sabia que se atendesse,
Ela diria: “Cadê você?”


Às sete horas tava desesperado.
Olhou pra janela e pensou em se jogar.
Mas aí lembrou da mulher
E pediu licença pra telefonar.


Ao falar com ela, ele se explicou.
Mas infelizmente ela não acreditou.
Ameaçou deixar a vida dele,
Se ele não dissesse com quem está.


E o seu chefe o chamou de novo.
Quase que ele pediu demissão.
E aí lembrou dos futuros filhos
E não quis que eles só comessem pão.


Às oito horas, foi liberado.
Mas sua cara estava no chão.
E cheio de amargura,
Voltou pra casa pior que comida de avião.


Sua mulher só gritava,
Achava que era traída com uma qualquer
E ele não tinha forças para lhe dizer
Que não tinha outra mulher.


Às nove horas foi dormir bem triste.
Tão triste que nada comeu.
O jantarzinho quase estragou
Pois para eles o casamento terminou.


Em nos seus sonhos ele dançava.
Sua vida ali era a que gostaria de ter.
Então pensou: “Pra que acordar
Se naquele sonho ele poderia ser? ”


À meia noite teve um sobre-salto,
E acordou sem nada dizer
Foi caminhado até o banheiro
E no espelho ele quis se ver..


Sem perceber, começou a chorar.
Um choro contido que depois desabou.
Era um bebê precisando de colo,
Uma criancinha precisando de amor.


Duas da manhã se ergueu ligeiro,
Foi até a porta da sala e a abriu
Olhou pra toda sua vida de longe,
E sem mais pensar ele partiu.


Sábado, meio dia, foi encontrado
Nadava nu na praia do Leblon.
E feliz com o que tinha feito
Não ligaria se o chamassem de doidão.


Era melhor assim que não sorrir.
Aquela vida não queria mais não!

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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

AO TEMPO PALAVRAS


Às vezes a gente acorda muito forte e tem um imenso fôlego pra continuar

Outras vezes alguma coisa se enfraquece e a gente chora logo ao acordar
Um dia pode ter muitas feridas, mas também pode ser umdia bom para danar
É bom agarrar cada momento, mas muitas vezes o deixamos escapar


Às vezes a gente quer fazer de tudo sem dar tempo de tudo terminar
Outras vezes não queremos fazer nada e disfarçamos para nada nos culpar
E tem a saudade muito forte, que sai de dentro, ou de fora quer chegar
Saudade por muitas coisas escondidas, mas às vezes percebida, faz questão de se mostrar


O tempo vai passando lentamente, e nesse tempo nem sentimos ele passar
O sentimento engana toda gente, se estamos bem, só pensamos em gritar
Um grito quase todo no silêncio, pedindo aos céus, por favor me faça olhar
Olhar para as coisas verdadeiras, para que a gente possa se elevar.

Às vezes só queremos um carinho para angustia se acalmar
Outras vezes , um pouquinho de tristeza para angustia poder se amparar
Depois da tristeza, alegria, como que dizendo que tudo vai passar
E então nos soltamos no segundo, deixando o tempo da gente respirar.




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terça-feira, 14 de setembro de 2010

SANTO DOMINGO EM SANTA


Dia calmo e angustiante é esse domingo

Que aperta o peito quando a resposta não chega

A tarde alheia aos desejos íntimos, passa, devasta a alma e

A gente pede colo à natureza

A fim de aplacar o coração com caminhadas errantes

Que iludem a solidão

Eis que surge uma saída
É ela, Santa Tereza
Com seus bares, suas belezas
Onde Noel Rosa não pagou a despesa
E fez história naquela mesa
De Guimarães e Das Neves
Nos mostrou que as coisas podem ser mais leves.


E de sambinha a Tim Maia,
De chorinho a Jorge Bem
Na ciranda do maracatu
Tem espaço para o funk também


E o domingo quase triste
Sofre uma peripécia
De festas e companhias
Que buscam juntos em momentos únicos
Epifanias


É o Rio de babados e refúgios
De novos amigos e velhos carnavais
Que fazem de um dia quase despercebido
Uma alegria em um tom a mais.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

DEPOIS DO SONHO

Ouvir o compasso da música   

através desses dias intensos
que passam feito rojão
onde quando não existe o tempo
apenas notas soltas de ilusão

seguindo a dança da vida
deixando-se levar além
sem palavras findas
nem repostas de alguém

é o sono que desperta o sonho
e no sonho se desperta o olhar
que não desperta na manhã
nem quando o olho despertar

são minúsculas cantigas
 gotas, gotículas
enriquecem o segundo breve
e deixa a vida quase leve
para o coração aguentar.

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