terça-feira, 31 de agosto de 2010

CENA IMPRESSA

Caros leitores!

Hoje, dia 31, às 19 na Livraria da Travessa do Shopping Leblon,
no Rio de Janeiro.

Eu mais 9 autores estaremos lançando o livro "Cena Impressa".
Um livro onde cada autor publicou 1 cena de teatro, e como é seu processo de criação de texto.
Minha cena se chama "The End" e o meu texto de processo se chama "Desafios"

Receberemos todos com um coquetel.
Quem puder ir será muito bem vindo!
Estamos muito felizes por essa realização.

CENA IMPRESSA - Volume 1 - Teatro à la carte


Autores: Camilo Pellegrini, César Amorim, Diego Molina, Felipe Barenco, Jô Bilac, Julia Spadaccini, Larissa Câmara, Leandro Muniz, Renata Mizrahi e Rodrigo Nogueira

Organização: Diego Molina
Apresentação: João Falcão
Orelha: Tania Brandão
Capa: Bruno Perlatto
Revisão: Bruno Alexander
Assessoria de Imprensa: Armazém Comunicação
All Print Editora, 120 ps

sábado, 28 de agosto de 2010

A MULHER QUE TRANSBORDAVA


Enquanto todos caminhavam , ela dançava.

Enquanto todos só sorriam, gargalhava.
Enquanto todos respiravam, suspirava.
Enquanto todos reclamavam, ela gritava.


Enquanto todos só pensavam, ela agia.
Enquanto todos entristeciam, ela sofria.
Enquanto todos questionavam, ela rangia.
Enquanto todos esquentavam, ela ardia.


Esperavam, ela surgia.
Separavam, libertava.
Sugeriam, surpreendia.
Flertavam, ela amava.

Era a mulher que transbordava.

Única, sem pudores, nem agonias.
Enquanto todos se preparavam
Ela vivia!

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terça-feira, 24 de agosto de 2010

CAMINHOS


Caminhos turvos com meu canto

Vou andando na estrada sem saber o que vem após a curva
Tentando disfarçar o medo
Pra quando cumprimentar o desconhecido
Parecer simpática.


Então continuo cantando baixinho
A fim de me salvar da solidão
Disfarçando o imenso amor que tenho dentro
Para não assustar ninguém


E faço barulho
Para aplacar o silêncio imenso
Que me consome por dentro
Se a vida é um mistério
Eu sou uma pergunta


Não há como compreender a estrada
Pois ela mesma não sabe onde vai chegar
Só resta ir seguindo buscando um jeito de não parar
Tomara que eu entenda como agir quando tiver que ver
o que tiver que ser.

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domingo, 22 de agosto de 2010

QUE VENHA O SOM...



Que venha o som


da delicadeza,

do fim da tristeza,

das águas do mar.

Que venha a luz

das mãos do poeta,

de toda clareza,

vem sem  voltar.

Que venha o canto

daquela menina,

que fica mais linda,

no brilho daquele olhar.

E vai a vida

com loucos segredos,

caminhos e enredos,

é nela que vou ficar.
 
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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O NOSSO CAIS

Vamos nos lançar na estrada de nossas escolhas  

E nos reconhecer nas nossas vitórias
E nos orgulhar das nossas histórias
Que ficarão eternas na memória


Iremos longe no convés 
E felizes navegaremos além
Para um outro um mar
Construído em nossas conexões
Que compartilharemos a distância
Aproximando nossas almas
E assim seremos mais


Para que possamos sorrir
Vamos celebrar o amor
Que por amor se transformou
Em riqueza transcendental


E assim seguiremos adiante
Rumo ao que quisermos
Ao que tiver que ser
Sem sofrer


Caminhos opostos na vida já não nos assustam
Porque já somos mais
E daqui, do nosso cais, nos vemos longe 
Partindo desse mundo.

http://www.youtube.com/watch?v=pgvi7_MyBxY&feature=related



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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

OS DONOS DA LUZ

Quem será que reinventa a Luz
Quando estamos atrelado aos erros.
Mas quem sabe erro é um acerto de contas com crescimento.
Quando nasce o sol e vemos o dia disparar o tempo,
Nos faz agir antes do pensamento,
Caímos na armadilha do momento.
E quem será que reinventa a Luz
Quando ela nos diz que o tempo é lento.


Quem será que reinventa a Luz
Quando precisamos valorizar o presente,
Sem passados que passaram e futuro inexistentes.
E o tempo obedece o agora?
Seria bom lançarmos a corda,
Para segurará-lo e não mandá-lo embora.
Quando tempo eleva a Luz,
Viramos a corda.


Quem será que reinventa Luz
Quando somos outros e não podemos,
Ou queremos e não sabemos como,
Ou precisamos ser outros podendo e sabendo,
E, sendo, seremos melhores outros.


Quem será que reinventa a Luz
Quando passamos na estrada,
Pisamos com passos tão fundos
Chegamos em outras moradas,
Até o outro lado do mundo
Só pra entender nossas falas.


Quem será que reinventa a Luz
Quando nos perdemos no tempo,
E reinventamos o amor
Para não nos perdemos na dor.


Quem será que nos dirá que a Luz se reinventará,
Quando respirarmos lentamente, olharmos para frente,
Abrirmos os braços intensamente
E ver o tempo elevando a Luz.
Para sermos a corda que enlaça o presente.

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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Epifanias no Café



Mulher no Café espera. Bebe um gole do expresso. Come um pedaço de pão de queijo. Olha para a rua. Será que ele vem? Bebe um gole. Finge ler. Ar blasé para quando ele chegar. Ajeita a roupa. Passa um batom. Morde mais um pedaço. Pensa em fumar. Lembra que não fuma. Passa a mão no cabelo. Olha para a rua. Lembra dele. A loja de CDs na frente. Vê gente chegando. Um homem de chapéu. Bebe mais um gole. Olha para o lado. Sente um calafrio. Vê as horas. Ele não chega. Lembra dele. Olha para suas unhas. Estão feitas. Pintadas de branco. Discreto. Olha para a rua. Entra a mãe e um filho. Bebe um gole pequeno. O café não pode acabar. Lembra dele. Lembra deles. Ela e ele. Tenta esquecer. Olha o cardápio. Talvez um brownie. Pode sujar. Melhor não. Engorda. Pega o livro. Lê três linhas. Olha para a rua. Lê de novo as três linhas. Olha para a rua. Fecha o livro. Olha as horas. Cruza as pernas. Entra uma senhora. Morde o pão de queijo. Lembra dele. Tenta esquecer. Olha para a loja em frente. Passa um ônibus. Bebe um gole. Descruza as pernas. Liga para alguém. Desiste. Passa a mão no cabelo. Ajeita o grampo. Olha pra rua. Lembra dele. O chapéu. Mais um gole. Acabou. O café? Ele. Ele não vem. Mais. Levanta. Paga. Olha para a rua. Tenta esquecer. Ameaça sair. Olha as horas. Vai embora. Não se mexe. Tanta gente. Esquece. Vai. Volta. Olha as horas. Cinco da tarde. Tá na hora. Tenta esquecer. Olha a rua. Um chapéu. É ele? Respira. Esquecer. Não. É ele. Talvez. Por quê? Não pode. Se olha no espelho. Epifania. Lembra-se. Acabou. Pensa em chorar. Sorri. Olha as horas. Olha a rua. Acabou. O café? Tem que esquecer. Ele não vem. Ele não vinha. Ela vai.


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sábado, 14 de agosto de 2010

BOM DIA

Sentir o toque deflagrador que está oculto na pose do dia-a-dia de ter que ser o que não se é para ser o que se quer.


Olhar pra fora da janela e entender o alcance que o pássaro solto tem no íntimo escondido do desejo de querer ser o pássaro e estar solto.


Desatrelado a qualquer dogma o tempo faz o que quiser.


Adaptados estamos todos ao tempo. Adaptados estamos todos.


Deixar o presente entrar na respiração para ver além da bossa permitida e fazer dela um rock progressivo inacabado.


Culpa, culpada que nos persegue e nos comanda, vai embora agora e nos deixe em paz com nossas subversões, nos livre de sua fala e nos deixe correr, embriagados, para outras possibilidades.


Tão perto e distantes estamos de compreender o que é realmente necessário.


Essa busca cruel que molda nossa face no percusso progressivo do tempo, até nos envelhecer.


Quase conseguimos, quase chegamos, quase, sempre quase, até quando.


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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

IMPRESSÕES DA VIDA EM UM SHOPPING



Não tinha jeito. Precisava fazer hora no Shopping.



Logo ela que, se lhe perguntassem: “ Qual o último lugar que você iria?”


Ela sem pensar responderia: “Um shopping!”


Por quê? Simplesmente não se sentia bem. Talvez sua alma solta doesse em lugares assim: fechados, com luz branca, lojas ao lado da outra, convidando pessoas a gastarem, não pensarem, aproveitarem, andarem, comerem, e se sentirem consumidores.


Ela não tinha nada contra consumir, só não gostava de shopping e ponto.


Mas naquela tarde chuvosa e fria, precisou entrar em um para fazer hora.


Naquele bairro não havia outra opção. Era shopping ou uma avenida opressora, cheia de veículos, sem calçada. Ou seja, shopping.


A primeira coisa que fez foi procurar um lugar para sentar. Um lugar que pudesse deixá-la um pouco menos desconfortável. Era impossível não se comparar com os outros ali. Se olhou. Não que fosse uma pessoa fora de moda, mas não ligava para ela. Tentou ignorar. Encontrou uma poltrona giratória ao lado de um piano vazio. Provavelmente aquela poltrona era justamente para os ouvintes do músico fantasma e foi lá mesmo que ela se sentou.


Tirou um livro da bolsa. Um livro que estava com dificuldade de ler, talvez ali seria o melhor lugar para tentar se concentrar nele, invés de se comparar com as pessoas em sua volta, que, envolvidas com mil outras coisas, jamais imaginariam que alguém, sentada numa poltrona giratória, estivesse se comparando com elas.


Ler alguma coisa onde a própria vida é a melhor das histórias, pode ser mesmo bem complicado. Difícil não imaginar como vivem pessoas que vão e vem, se vestem das mais variadas formas, andam, param, andam, entram em lojas, saem com com sacolas ou sem elas. Imaginar a história de cada um é um pequeno prazer que ela mantinha nos segundos íntimos de seus dias. Naquela tarde chuvosa, quem eram aquelas pessoas no shopping?


Mas o livro também a chamava, tinha que equilibrar seu tempo antes da hora esperada do médico.


Chegou muito antes, porque não calculou direito o tempo que levaria de sua casa até aquele bairro inóspito de shoppings e ruas opressoras.


Conseguiu se concentrar no livro e por alguns minutos esqueceu que estava lá. O poder inebriante de uma história de nos transportar a outros lugares é a maior benção de um livro, segundo ela.


Foi só porque esqueceu aonde estava que, de repente, o piano fantasma começou a tocar e agora não era mais fantasma, havia de fato um jovem pianista ali, tocando ironicamente “Somewhere Over the Rainbow” . E o presente entrou em suspensão, ela era a Dorothy sendo levada dali para outras esferas da realidade.


Olhou para o pianista como quem quer dizer: “obrigada”. Mas ele, cumprindo uma rotina diária de pianista de shopping, parou de perceber qualquer sinal de agradecimento de qualquer ser humano. Tocava automaticamente pensando no café que iria tomar depois, aonde iria tocar naquela noite, se pagara o aluguel naquele mês, na mulher que está tentando sair, ou nem pensando em nada, apenas executando. Bom trabalho, de qualquer maneira, um emprego honesto, onde muito músicos virtuoses, mas com problemas financeiros gostariam de pegar. Afinal, não comprometeria em nada sua paixão.


Não percebeu nem uma garotinha com os pais que se aproximou do piano e sorriu para ele, ou para a música, e fez seus pais pararem tudo o que estavam fazendo, para ouvir.


A garotinha estava realmente feliz. Uma felicidade tão plena que sentou ao lado da mulher com o livro, em outra poltrona giratória e, ao som do piano, começou a rodar. Ela sim, tinha a alma livre, ela sim, sabia viver e não se comparava com ninguém e não olhava para ninguém pois não havia com que se preocupar a não ser, ser.


Como estava feliz...


O pianista, tocando automaticamente não conseguiria compreender o bem que ele fazia a poucas pessoas naquele shopping.


A mulher observou algumas delas, uma ou duas, que também pararam por poucos segundos, ouviram um pouquinho a música e continuaram rumo a seus objetivos consumistas.


O dono do shopping devia saber disso: que nem a música mais linda do piano é párea para um ambiente onde comprar é o verbo protagonista. Vai ver que por isso mesmo contratou um pianista, para agradar aqueles que, assim como a mulher e a garotinha, preferiam consumir outras coisas.


Que bom. Porque aquele lugar virou a melhor parte do dia das duas. A mulher aprendeu muito com a garotinha feliz, ouvindo a música na poltrona giratória, e a garotinha sorriu para a mulher, as duas cúmplices de uma alegria quase não permitida ali. Os pais que a observavam de longe, finalmente a chamaram, e ela , no seu papel de filha, teve que obedecer, mas espertamente aproveitou cada segundo da despedida: levantou lentamente da poltrona, andou passo a passo bem devagar, parou mais um pouquinho, se aproximou do pianista que nem a olhou, e foi, assim, feliz, embora, com os pais.


A mulher agora queria agradecer à garotinha, por todas as coisas que aprendera no tempo daquela música, que agora não era mais “Somewhere over the Rainbow”, era “Summertime”. Olhou mais uma vez para o pianista, que continuava desconcentrado dentro da sua rotina e partiu. Já tinha feito a hora suficiente para o médico, talvez, estava até atrasada. Com tantas impressões o tempo passa voando. E foi, sabendo agora que até em um shopping a vida pode entrar em suspensão...

http://www.youtube.com/watch?v=eq0EWNuR1H8